Retalhos da Vida de uma Farmacêutica - O dia em que "Tirei a Bata"!
Das minhas recordações destes meus 25 anos como farmacêutica, vou hoje partilhar o que aconteceu no dia que resolvi "tirar a bata".
Quando eu decidi trabalhar em farmácia comunitária, estar mais perto das pessoas e, ajudá-las da melhor maneira possível, sempre pensei em fazê-lo com carinho, prazer, e acima de tudo com profissionalismo e boa conduta.
Quem trabalha tem direito no fim do mês a receber o seu ordenado, mas eu, e penso que muitas pessoas em diferentes áreas profissionais, têm outro ordenado muito gratificante, que é quando sabemos, que a nossa prestação ajudou alguém, seja de que forma for.
É muito gratificante servir e ajudar o próximo…
Mas, aonde fica a história de "tirar a bata"?
Muitas são as vezes faltam medicamentos nas farmácias, é uma situação incómoda, porque o cliente tem que regressar para aviar o que fica em falta. Aconteceu com um cliente nosso…
Depois de voltar duas vezes à farmácia, nós ainda não tínhamos conseguido arranjar nos nossos fornecedores, um medicamento que era urgente para a sua esposa. Liguei para uma farmácia perto da nossa, e fiquei muito contente em saber que tinham o dito medicamento.
O que eu fiz logo de seguida foi mandar para lá o cliente…
Quando o meu director técnico teve conhecimento do sucedido, ficou zangado, e começou a chamar a outra farmácia de drogaria…havia uma certa rivalidade e disputa muito antiga, desde a altura que foram abertas as duas farmácias na mesma cidade.
Para minha surpresa, um senhor que até então sempre fora correto comigo, começou a dizer palavrões dirigidos para a outra farmácia, mas que, indirectamente eram para mim, por ter enviado um cliente, para um suposto “rival”.
Na altura não tive dúvidas, sem reclamar, dirigi-me ao quarto dos cacifos, tirei a minha bata, avisei aos meus colegas, e fui para casa…
Não podia de maneira alguma aceitar que o meu patrão me faltasse ao respeito e, quisesse que eu colocasse o lucro acima do Servir um utente.
Não se pode brincar com coisas sérias, não se pode jogar ao gato e ao rato, quando em jogo está a saúde das pessoas…
No dia seguinte voltei ao trabalho normalmente…fiquei “marcada” para sempre, mas fiquei tranquila porque a minha conduta profissional falou mais alto do que tudo o resto.
Na vida muitas vezes é preciso ”tirar a bata”, deixando para trás coisas que nos fazem mal, ou simplesmente não concordamos.
É preciso ter coragem para mostrar o que somos, o que sentimos, o que pensamos…é preciso não deixar que nada, nem ninguém altere o nosso caráter… é preciso deixar de ter medo das consequências, porque quando sabemos exatamente o que andamos a fazer neste mundo, só poderá vir coisa boa.
Se acha que está na hora de “tirar a bata”, tire...sem medo!
Se acha que pode ajudar alguém...Partilhe!